Ele pode ser um publicitário famoso, colecionar vários
prêmios no currículo, enfileirar leões de Cannes na estante, conduzir uma
agência, mas se não tem o reconhecimento dos pais nunca estará satisfeito. Ele
pode ser um arquiteto requisitado, ser chamado de Niemeyer, ganhar convites
para idealizar museus no mundo inteiro, mas se não tem o reconhecimento dos
pais nunca estará satisfeito.
Em toda profissão, nunca estaremos satisfeitos sem receber o
apoio paterno e materno.
É uma sina depender eternamente da atenção dos pais, mas não
existe jeito de escapar.
Nenhum filho estará resolvido emocionalmente sem o carinho
dos pais.
O sucesso, os troféus, a fama não são nada se não há um pai ou uma mãe para se orgulhar daquilo que a gente faz.
O que deve sofrer um bailarino que nunca teve seus pais na
plateia. O que deve sofrer um artista plástico que nunca contou com seus pais
numa exposição. O que deve sofrer um escritor que nunca foi folheado pelos seus
pais.
Não haverá aplauso que sacie o orfanato do coração de um filho. Não haverá láurea e diploma que cale as paredes de uma casa onde os pais desprezam a vocação do filho.
É preferível ter um auditório vazio com os pais sentados na
primeira fila a um auditório lotado sem o rosto daqueles que nos conceberam.
Qualquer filho que me lê concordará comigo.
Impossível amadurecer o nosso sentimento sobre o assunto, é
imutável. Não é problema para ser levado para terapia, é angústia incurável.
Queremos que eles sempre estejam presentes, concordando ou
não. Pois os pais foram a nossa primeira ovação, nossos primeiros cumprimentos,
nossa primeira torcida, formam o nosso início. Não tem como excluí-los de nosso
final.
Não há maior carência do que adotar uma trajetória
profissional com o desdém dos nossos cuidadores, assumir um trajeto com o
despeito familiar.
Ainda que seja consagrado, o profissional será amargurado. Doloroso enfrentar o boicote e se virar sozinho.
Sem a compreensão dos pais, ele jamais vai confiar
suficientemente em si, jamais será receptivo à felicidade, jamais será
agradecido ao que acumulou com seu esforço. Faltará sempre uma mão antiga e
conhecida no ombro da glória.
Nenhum filho se perdoará diante do desprezo dos pais. Carregará a culpa insolúvel de ter feito algo errado, de estar cometendo um crime, de não retribuir à educação que recebeu, de desrespeitar os sonhos filiais.
O que um filho deseja é o amparo do ventre bem depois do ventre, a paz que vem da confiança, a benção na testa quando sair de casa.
Não suportará decepcionar seus pais. Não aguentará frustrá-los em silêncio. Por mais que se arme um exército invencível de amigos, não se vence a oposição do sangue.
A desfeita é realmente incompreensível: aqueles mesmos pais
corujas que não deixavam de comparecer nas exibições da creche e da escola,
agora incapazes de abrir os braços para um aperto simbólico; aqueles mesmos
pais babões que retratavam a infância com fotos e vídeos, agora incapazes de
abrir a boca para um simples elogio; aqueles mesmos pais bajuladores que
enchiam o pulmão de alegria para falar o nosso nome, agora incapazes de
suspirar de saudade.
É uma dor sem idade. Uma ferida sem consolo.
Pais que erram a medida da força. Ao procurar demonstrar
firmeza desandam em intolerância.
Pais que consideram que o filho desperdiçou sua vida sem ao
menos entender o que ele é e o que se tornou. Pais que julgam um disparate a
ausência de estabilidade, que lamentam a pouca ambição do herdeiro, que diz que
ele foi preguiçoso e decidiu pelo caminho mais fácil.
Pais que abdicam de décadas ao lado do filho só para provar que têm razão, só para dizer ao final que avisaram do fracasso.
Pais que torcem para que tudo falhe e sua criança grande
retorne ao lar, humilhada e constrangida, e aprenda assim a dura
lição.
A frieza e o distanciamento não são lições, apenas geram preconceito e arrogância.
A única lição que funciona é o amor, e sua aceitação reverenciada da diferença, e seu colo inadiável da ternura.
Se você é pai, se você é mãe, reconheça a profissão do seu
filho antes que seja tarde. Ele está ansiosamente esperando.
Fonte : artigo publicado em gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2014/10/Fabricio-Carpinejar-tem-a-bencao-meu-filho-4624934.html
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