Segue um texto muito interessante sobre a importância
do investimento num processo de Orientação ou Coaching Vocacional...
“Você tem jeito
de médico” – apareceu um sorrisão na minha cara imediatamente. Tinha
acabado de me forçar a ver um machucado que sangrava, sem demonstrar pavor,
medo, nojo… exatamente como um médico deve ser capaz de fazer, certo?
Essa foi a imagem
que criei de um médico quando era muito novo e me forcei a ter esse
comportamento sempre que possível. O curioso disso é que esse esforço não me
tornaria médico, mas faria as pessoas dizerem que eu tinha jeito de médico e
isso era importante para reforçar a imagem mental que tinha construído.
Para confirmar
minha “aptidão”, quando fazia testes vocacionais sabia exatamente o que
responder para que os testes dessem a resposta que eu queria obter : – “Você
gosta de lidar com pessoas em situação de vulnerabilidade e procurar soluções
para melhorar a vida dos outros? – Sim, é claro”. Aos 17 anos de idade já
tinha feito isso quantas vezes ? Não tinha feito.
O teste
vocacional funcionou como a lâmpada dos desejos que eu esfrego com as minhas
respostas e a resposta do teste dá exatamente aquilo que eu quero. O teste
expressa muito mais o meu desejo baseado em impressões frágeis do que minhas
verdadeiras aptidões. Se me esforçar e cavar mais fundo, chego a conclusão de
que queria ser visto como um potencial médico porque achava que essa era a
profissão que me daria dinheiro suficiente para comprar o carro mais legal, a
casa mais fascinante, as viagens mais empolgantes…
Quando era novo queria ter
dinheiro para comprar a liberdade de fazer o que quisesse e achava que forçar
meus testes vocacionais para medicina seria o caminho. Coitado de mim.
Precisava de tanta orientação nessa época.
O lado perverso
dessa história vem agora. Essa “ilusão” do teste vocacional pode fazer o aluno
entrar na faculdade.
“Como pode ser
perverso entrar na faculdade que o aluno escolheu?”
Em 2016 tínhamos
8 milhões de alunos matriculado no ensino superior público e privado. Desse
total, 40% desistiu ou trancou a matrícula. O número de alunos desistentes nas
faculdades particulares chega a 46% e nas públicas 24%. Existem várias razões
que levam os alunos a desistir do curso superior e a maior delas é a falta de
orientação antes de fazer a escolha.
Quando o aluno
inicia o curso superior que vai determinar sua profissão pelos próximos 30 ou
40 anos, muitas dúvidas que sequer foram cogitadas ao longo do ensino médio,
surgem de uma só vez.
Quais possibilidade
essa profissão abre para mim?
Como está o
mercado de trabalho?
Como será minha
rotina?
Serei capaz de
realizar meus sonhos com essa profissão?
Sem orientação
adequada, os alunos respondem essas perguntas de modo otimista durante o ensino
médio e se afastam da realidade que vão encarar.
O aluno que não
se encaixa no curso que está fazendo passa por um imenso dilema:
1. Forçar a barra
e continuar no curso que entrou com tanto esforço;
2. Abandonar e
tentar entrar em outro curso, sem garantias de que vai dar certo.
O grau de
angústia diante dessa decisão faz a vida virar de ponta cabeça. A vontade de
voltar no tempo e fazer diferente, atormenta o aluno e tira o juízo. Se o aluno
insistir em continuar o curso, pode acabar desistindo alguns anos depois, o que
leva a uma perda de tempo maior. Se ele desistir, pode levar anos para ser
aprovado novamente ou, não conseguir.
Prestar o
vestibular sem fazer orientação profissional é como acelerar um carro em uma
pista sem saber se ela vai continuar ou acabar em um precipício. Seria como um
jogo de azar onde você aposta com grandes chances de perder. O número de
desistências no ensino superior brasileiro é absurdo e isso mostra quão comum é
para os alunos entrarem na faculdade sem ter a menor ideia do que estão fazendo.
Historicamente,
fazer faculdade era a garantia de arrumar um bom emprego e alcançar coisas que
poucas pessoas alcançariam. Seu avô ou bisavô viveram uma realidade próxima
disso. Se eles fizeram faculdade, toda a sua família deve ter uma condição
financeira melhor do que aqueles que não tiveram avôs ou bisavôs que fizeram
faculdade.
Atualmente,
concluir a graduação nos coloca em um grupo composto por milhões de pessoas que
também concluíram a faculdade. Em 2016, mais de 1,1 milhões de pessoas
concluíram o ensino superior no Brasil e esse número está aumentando a cada
ano. Nossos netos e bisnetos não terão nada garantido pelo fato de fazermos
faculdade.
Por maiores que
sejam os desafios no ensino médio, vale a pena construir pontes que o levem
para muito além da formatura no final do 3ºEM. Investir em orientação
profissional de qualidade no ensino médio, sem qualquer dúvida, é o
investimento dentro do ensino médio que pode trazer o maior retorno ao longo do
tempo.
Fonte
: canaldudow.com – “Teste Vocacional e a Agonia de Correr par o Precipício”
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