sexta-feira, 9 de março de 2018

Quando um Teste Vocacional pode Contribuir para uma Escolha Errada












Segue um texto muito interessante sobre a importância do investimento num processo de Orientação ou Coaching Vocacional...

“Você tem jeito de médico” – apareceu um sorrisão na minha cara imediatamente. Tinha acabado de me forçar a ver um machucado que sangrava, sem demonstrar pavor, medo, nojo… exatamente como um médico deve ser capaz de fazer, certo?

Essa foi a imagem que criei de um médico quando era muito novo e me forcei a ter esse comportamento sempre que possível. O curioso disso é que esse esforço não me tornaria médico, mas faria as pessoas dizerem que eu tinha jeito de médico e isso era importante para reforçar a imagem mental que tinha construído.

Para confirmar minha “aptidão”, quando fazia testes vocacionais sabia exatamente o que responder para que os testes dessem a resposta que eu queria obter : –  “Você gosta de lidar com pessoas em situação de vulnerabilidade e procurar soluções para melhorar a vida dos outros? – Sim, é claro”. Aos 17 anos de idade já tinha feito isso quantas vezes ? Não tinha feito.

O teste vocacional funcionou como a lâmpada dos desejos que eu esfrego com as minhas respostas e a resposta do teste dá exatamente aquilo que eu quero. O teste expressa muito mais o meu desejo baseado em impressões frágeis do que minhas verdadeiras aptidões. Se me esforçar e cavar mais fundo, chego a conclusão de que queria ser visto como um potencial médico porque achava que essa era a profissão que me daria dinheiro suficiente para comprar o carro mais legal, a casa mais fascinante, as viagens mais empolgantes… 

Quando era novo queria ter dinheiro para comprar a liberdade de fazer o que quisesse e achava que forçar meus testes vocacionais para medicina seria o caminho. Coitado de mim. Precisava de tanta orientação nessa época.

O lado perverso dessa história vem agora. Essa “ilusão” do teste vocacional pode fazer o aluno entrar na faculdade. 

“Como pode ser perverso entrar na faculdade que o aluno escolheu?” 
Em 2016 tínhamos 8 milhões de alunos matriculado no ensino superior público e privado. Desse total, 40% desistiu ou trancou a matrícula. O número de alunos desistentes nas faculdades particulares chega a 46% e nas públicas 24%. Existem várias razões que levam os alunos a desistir do curso superior e a maior delas é a falta de orientação antes de fazer a escolha.

Quando o aluno inicia o curso superior que vai determinar sua profissão pelos próximos 30 ou 40 anos, muitas dúvidas que sequer foram cogitadas ao longo do ensino médio, surgem de uma só vez. 

Quais possibilidade essa profissão abre para mim?
Como está o mercado de trabalho?
Como será minha rotina?
Serei capaz de realizar meus sonhos com essa profissão? 

Sem orientação adequada, os alunos respondem essas perguntas de modo otimista durante o ensino médio e se afastam da realidade que vão encarar.

O aluno que não se encaixa no curso que está fazendo passa por um imenso dilema: 
1. Forçar a barra e continuar no curso que entrou com tanto esforço; 
2. Abandonar e tentar entrar em outro curso, sem garantias de que vai dar certo. 

O grau de angústia diante dessa decisão faz a vida virar de ponta cabeça. A vontade de voltar no tempo e fazer diferente, atormenta o aluno e tira o juízo. Se o aluno insistir em continuar o curso, pode acabar desistindo alguns anos depois, o que leva a uma perda de tempo maior. Se ele desistir, pode levar anos para ser aprovado novamente ou, não conseguir.

Prestar o vestibular sem fazer orientação profissional é como acelerar um carro em uma pista sem saber se ela vai continuar ou acabar em um precipício. Seria como um jogo de azar onde você aposta com grandes chances de perder. O número de desistências no ensino superior brasileiro é absurdo e isso mostra quão comum é para os alunos entrarem na faculdade sem ter a menor ideia do que estão fazendo.

Historicamente, fazer faculdade era a garantia de arrumar um bom emprego e alcançar coisas que poucas pessoas alcançariam. Seu avô ou bisavô viveram uma realidade próxima disso. Se eles fizeram faculdade, toda a sua família deve ter uma condição financeira melhor do que aqueles que não tiveram avôs ou bisavôs que fizeram faculdade.

Atualmente, concluir a graduação nos coloca em um grupo composto por milhões de pessoas que também concluíram a faculdade. Em 2016, mais de 1,1 milhões de pessoas concluíram o ensino superior no Brasil e esse número está aumentando a cada ano. Nossos netos e bisnetos não terão nada garantido pelo fato de fazermos faculdade.

Por maiores que sejam os desafios no ensino médio, vale a pena construir pontes que o levem para muito além da formatura no final do 3ºEM. Investir em orientação profissional de qualidade no ensino médio, sem qualquer dúvida, é o investimento dentro do ensino médio que pode trazer o maior retorno ao longo do tempo.

Fonte : canaldudow.com – “Teste Vocacional e a Agonia de Correr par o Precipício”

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